terça-feira, 30 de julho de 2013

Crônica do procrastinador

Acordou, olhou o relógio, pensou, lembrou ser essa a última semana de poder acordar esse horário, molemente se levantou, ligou o computador, ligou o chuveiro, deu uma mijada, testou a temperatura da água, tirou o short, entrou no banho, deixou a água cair sobre sua cabeça, enquanto acordava, pensava mais, aos poucos ia embalando seu ritmo ainda que contra sua vontade. Desligou o chuveiro, pegou a toalha, secou primeiro o peito, depois o rosto, depois o resto, vestiu a cueca, a calça, passou desodorante, vestiu a camisa, arrumou o cabelo rapidamente sem pente mesmo, secou o ouvido, saiu do quarto, entrou na cozinha, abriu a geladeira, pegou um pão, presunto, queijo, requeijão e o leite, preparou tudo, serviu café, serviu leite, comeu, bebeu, preparou seu lanche para a tarde, voltou pro quarto, escovou os dentes.

Saiu de casa, pôs o óculos, desceu a rua, esperou o ônibus, entrou, pagou, sentou, divagou, desceu. Caminhou em direção a seu emprego meia boca, no caminho fumou um cigarro, se xingou por isso, apagou, pôs a bala na boca, pôs o crachá no pescoço, tirou o óculos, entrou, sentou, fingiu gostar de todo mundo ali, fingiu gostar daquilo, fingiu estar satisfeito, saiu pra almoçar sozinho, como todos os dias desde que começou ali, acendeu outro cigarro, apagou, entrou no restaurante, serviu, comeu, pagou, saiu, acendeu outro cigarro, voltou praquela sala, sentou, aguentou, deu sua hora, foi embora, caminhou, esperou o ônibus, entrou, pagou, sentou, divagou, desceu.

Fez o caminho inverso até sua casa, entrou, foi pro quarto, tirou a roupa, ligou o chuveiro, deu uma mijada, testou a temperatura da água, entrou no banho, deixou a água cair sobre sua cabeça, enquanto relaxava, pensava mais, ainda que contra sua vontade. Desligou o chuveiro, pegou a toalha, secou primeiro o peito, depois o rosto, depois o resto, vestiu o pijama, secou o ouvido, saiu do quarto, entrou na cozinha, abriu a geladeira, pegou um pão, presunto, queijo, requeijão e o leite, preparou tudo, serviu o leite, misturou o chocolate, comeu bebeu, voltou pro quarto, escovou os dentes, sentou em frente o computador que deixou ligado desde cedo, leu, pensou, começou a escrever, uma linha, duas linhas, um parágrafo, dois parágrafos, três parágrafos, não terminou, ele não termina nada, só publicou o texto e foi dormir.

domingo, 14 de julho de 2013

Tão significativo que a boca cala, os dedos se imobilizam e o coração se une

Que a vossa luz incida sobre mim e me torne tão boa quanto eu posso ser. Que seja permitido a mim a graça do meu merecimento. Que o caminho por mais difícil, me ensine as suas lições. Que meu orgulho e vaidade sejam somente suficientes para manter-me viva e firme. Que minha conduta seja incorruptível, assim como vosso amor. Que por mais que doa e pareça injusto, eu possa em algum momento entender e aceitar vossos propósitos. Que minhas escolhas sejam guiadas por vossa luz e que o dano que eu causar seja o menor possível, de modo que com ele eu não me puna mais do que devo, mas que seja exemplo de como não agir. Que me mantenha íntegra diante das tentações e ofertas vãs, pois a eternidade se conquista em uma mente tranquila e em uma alma pura. E por fim, que o Senhor esteja conosco além de como pecadores, mas humildemente como seres que almejam evoluir e descansar em vossa paz.

Andei pensando em postar, aí li essa oração, então percebi que essas palavras falaram por mim. Obrigado por tudo.

sábado, 4 de maio de 2013

Lindo horizonte

Certa ocasião, me encontrei em uma trilha com o mundo, à minha esquerda, desaparecendo num horizonte de perder o fôlego, numa das visões mais lindas que eu me lembrava de ter visto e, ao meu lado direito, contrapunha-se um enorme monte rochoso, com pedrinhas caindo o tempo inteiro e muita poeira despencando, quase pintando o meu corpo com aquela cor acinzentada. À minha frente, exibia-se uma subida, íngreme, constante, lotada de pedras soltas que a qualquer momento poderiam simplesmente se soltar e, ao pisar, me fariam cair lá de cima. Ao me virar, deparei-me com uma estrada, um seguimento daquela trilha, porém asfaltado, como se aquele ponto em que eu me encontrava fosse o começo daquela trilha.

Fiquei me questionando, tentando lembrar qual o caminho feito por mim até chegar àquele lugar, mas não consegui, apenas me perdi naquele horizonte, sentindo aquelas pedrinhas caindo sobre mim, mas as ignorando, via aquela vastidão com os olhos brilhando, esperando a hora em que, da mesma forma que cheguei, eu iria embora, mas, ao mesmo tempo que eu esperava essa hora, eu ansiava para que ela não chegasse nunca. Ignorei aqueles dois caminhos, as pedras caindo sobre mim, optei por enxergar a beleza à minha frente, mas no fundo, eu sabia que o risco de ficar ali era grande, a qualquer momento poderia cair alguma pedra grande em mim, e também, eu não iria embora como num passe de mágica, eu teria que optar em subir e ver onde daria aquele caminho perigoso ou descer e ver onde aquele caminho me levaria. 

Pensava em tudo isso com o coração apertado, pois a vida me forçava a escolher por onde eu iria, e eu sabia que se eu subisse, seria infinitamente mais difícil, mais perigos eu encontraria, mas chegaria ao topo da montanha e lá de cima contemplaria o mundo de uma forma inédita e mais espetacular ainda que naquele momento e se descesse, encontraria um caminho mais fácil, mais brando, que me levaria à segurança, mas me faria perder aquela vista maravilhosa, não contemplaria algo como aquilo novamente. Cabia apenas a mim escolher, por mais difícil que possa ser, é apenas minha essa escolha. 

Eu sigo olhando para o chão, mas de esguelha, vislumbro aquele mundo maravilhoso e isso me motiva a continuar subindo.